Parte 7
Thomas
Ao ver Sofia
saindo às pressas, ficou sem entender direito o que tinha acontecido ali. Ficou
confuso, mas não queria se precipitar a pensar algo errado.
Durante aqueles
minutos aguardando a roupa, Thomas via flashes da figura de Sofia e de seu
sorriso incrivelmente bonito. Quando voltou a si, Lucas o estava chamando:
- Senhor...
Senhor!
Thomas olhou
espantado. – Me desculpe. – disse timidamente.
- Temos uma
promoção especial para novos clientes. Seu primeiro cadastro de peças é
gratuito, se caso quiser voltar aqui, pegue meu cartão. Tem um numero de
protocolo que posso cadastrar em seu nome.
Sorrindo
Thomas respondeu:
- Muito
obrigada.
- Suas peças
já estão prontas.
Thomas
agradecendo mais uma vez, pegou as duas peças já dobradas e as guardou na
mochila. Saiu do estabelecimento, guardou o cartão em um dos compartimentos de
sua carteira, e caminhou em direção ao carro ainda confuso com a situação de
minutos atrás.
Clara
Não
aguentando mais ser pressionada por Sofia a se manter inerte em relação a
Thomas, Clara decidiu tomar uma atitude. Pegou seu celular e começou a discar
os números e foi interrompida por uma ligação de Sofia.
Após ouvir
barulhos estranhos de uma ligação com um péssimo sinal, Clara perguntou:
- Alô?
Sofia?
Continuava a
ouvir aquele barulho irritante e decidiu desligar e tentar outra ligação a ela.
- Tudo bem?
O sinal esta muito ruim!
Não
conseguindo resposta nenhuma, viu que a ligação tivera sido interrompida
novamente.
Sofia
Irritada
entrando no estacionamento de seu prédio, esperou para tentar outra ligação
quando chegasse a seu apartamento. Sofia não tinha certeza se contava a Clara
sobre o acontecimento daquela manhã, ou se deixava esse trabalho para Thomas.
Ela estava confusa, com muita dor de cabeça e com uma aceleração incomum nos
próprios movimentos.
Ao chegar à
porta de seu apartamento, deixou a chave cair. Ao se abaixar para pegar a
chave, deixou a bolsa cair.
- Merda! –
disse em voz alta e consequentemente seu vizinho saiu preocupado.
- Precisa de
ajuda? – disse ele.
Sofia
respirou fundo. - Não obrigada. – levantou-se com a chave na mão e entrou no
apartamento.
Jogou a
bolsa em cima do sofá e foi até seu armário para procurar uma aspirina. Ao
encontrar abriu a geladeira, procurou água e só encontrou vinho.
- Como se já
não bastasse... – respirando fundo mais uma vez, pegou um copo e encheu de água
da torneira.
Tomando os
dois comprimidos de aspirina, se deitou no sofá. Olhando a luminária do
apartamento lembrou-se que esse estresse e essa agitação poderia ser qualquer
coisa, não necessariamente o encontro com Thomas.
Ainda sem
certeza se queria falar com Clara, fitou o celular. Uns minutos depois caiu no
sono.
Clara e
Thomas
Depois de
esperar uma hora por mais uma ligação de Sofia, decidiu continuar o que estava
fazendo antes. Discou novamente os números de Thomas e esperou calmamente até a
ligação se completar.
- Clara! –
disse Thomas.
- Oi Thomas,
tudo bem?
Thomas
organizou os pensamentos na cabeça e ajustou uma frase para contar a Clara que
tinha conhecido Sofia.
- Tudo...
Aconteceu uma coisa engraçada hoje.
- Sério? O
que?- perguntou Clara.
- Bem, eu
estava numa cafeteria e uma garota esbarrou em mim, entornando café na minha
roupa e por coincidência a garota era Sofia!
Clara
atônita com a notícia pensou se talvez ela tivesse ligado para contar sobre
esse acontecimento, ou se ela ainda não sabia que Thomas era mesmo “o Thomas”.
- Ela sabia
quem era você?
- Na
verdade, ela descobriu depois. Foi tudo muito rápido, ela disse que tinha um
compromisso e não deu tempo de conversarmos, mas ela me indicou a lavanderia
que ela usa. Foi muito simpática.
- Oh, sim.
Entendi.
- E... Como
você esta Clara?
- Esta tudo
bem por aqui.
A conversa
continuou como de costume, os assuntos fluindo. Clara queria saber mais
detalhes sobre essa coincidência entre Sofia e Thomas, queria saber também o
que Sofia achou dele... Enfim, tinha muitas perguntas a fazer, mas queria
conversar disso pessoalmente e com bastante tempo livre.
Sofia
Depois de
dormir por quase duas horas e meia, Sofia se levantou num salto do sofá se
sentindo muito melhor. Alongou o corpo e foi tomar um banho quente para ver se
saía no seu dia de folga para espairecer. Tinha ido até a cafeteria e acabara
piorando seu estado mental, e deixando o físico tenso. Tinha sido uma má ideia.
Então, depois do descanso, um banho quente e talvez uma comida japonesa.
Depois de
decidir buscar a comida japonesa, ao invés de pedir por telefone, vestiu uma boa
roupa, arrumou o cabelo e fez uma maquiagem leve.
- Talvez... Seja
hoje um daqueles malditos dias que eu encontre um ex. Caso seja isso, espero
que pelo menos esteja bonita pra não causar pânico. – disse ela enquanto
passava rímel.
Deu uma
ultima olhadela no espelho em sua saia floral rodada, salto médio preto e sua
blusa decotada no mesmo tom avermelhado de uma das rosas da saia.
- Acho que
estou bem. – disse ela virando de um lado a outro na frente do espelho.
Estacionou
na esquina da rua onde ficava o restaurante. Ao chegar à porta respirou fundo e
observou todo o restaurante para achar um lugar bom para se sentar.
Fez o
pedido, e pediu para esperar com uma pequena dose de saquê. Enquanto esperava
bebericando, seu celular começou a tocar.
- Sofia? Eu
estava passando pelo seu prédio... – disse a pessoa, que quando ela reconheceu a
voz já sentiu um arrepio.
- Eu não
estou em casa. – respondeu rispidamente.
- Onde você
esta?
- Onde você
não vai me procurar porque não quero falar com você.
Um silêncio
constrangedor de alguns segundos. A voz continuou:
- Por favor,
deixa eu te ver. Você esta naquele restaurante de comida japonesa que você
gosta né?
- Não. –
disse ela já se levantando.
- Já estou
chegando ai.
Sofia chamou
a mesma garota que anotou seu pedido e pediu que cancelasse e pegasse a conta
do saque que ela estava indo embora. Quando estava passando, quase correndo
pela porta, foi surpreendida e esbarrou em alguém.
Ao olhar
para pessoa para pedir desculpas viu que era Thomas.
- Duas vezes
no mesmo dia, já tô achando que você quer me derrubar. – disse ele
delicadamente.
- Desculpa.
– disse ela fitando seus olhos azuis. – Estou com um pouco de pressa agora. Não
quero que uma pessoa que acabou de me ligar me encontre... – fez uma pausa e
seu coração em disparada percebeu que ele já se aproximava e continuou. – Que
por sinal, ele já esta vindo atrás de você.
- Olá minha
princesa. – disse o cara com um tom irônico.
- Desculpa
Thomas, tenho que ir. E você? – olhou para o homem atrás de Thomas. - Vá à
merda.
Sofia foi o
mais rápido que pôde até seu carro. Thomas preocupado foi atrás dela e disse:
- Eu posso
te acompanhar já que não quer falar com aquele cara...
Sofia viu
que o rapaz vinha em sua direção olhou para Thomas e disse:
- Obrigada,
onde seu carro esta?
- Não estou
de carro agora...
- Então te
dou uma carona até onde você precisa ir, em troca dessa... “Proteção”.
- Tudo bem.
Eles
caminharam até o carro, mas o homem continuou a segui-los. Bateu no vidro
quando Sofia fechou a porta, mas não teve chances quando ela acelerou o carro.
- Desculpa
pela cena constrangedora. – disse Sofia ofegante.
- Seria
forçar intimidade se eu perguntasse o que foi isso? – perguntou Thomas.
- Sabe
aquele ex-namorado que foi um idiota com você, mas mesmo assim ele acha que
você vai querer alguma coisa com ele? Já me mandou flores, me mandou cartas, me
ligou pedindo desculpas... – Sofia respirou, ao parar no semáforo fitou Thomas
e continuou - Eu não tô mais afim de me enganar de novo.
Thomas fitou
Sofia e por impulso perguntou:
- Você
conseguiu jantar?
Sofia sem
pensar direito no que estava fazendo respondeu que não.
- Tinha
acabado de fazer meu pedido quando ele me ligou, tinha que sair o mais rápido
dali e cancelei tudo. Só beberiquei um pouco de saquê.
- Ok, vire à
direita.
Sofia seguiu
as indicações de Thomas, que deram em uma lanchonete.
- Aqui? -
perguntou Sofia.
- Sim, pode
não parecer nada de especial, mas tudo aqui é uma delícia!
Sentaram-se
numa mesa mais no fundo um de frente para o outro.
- Bem...
Faça as honras. Não conheço nada por aqui, você deve saber o que é bom. – disse
Sofia ao olhar o cardápio.
- Ok então.
– disse Thomas levantando a mão, chamando a garçonete. – Quero uma porção de
batatas especiais e bacon, com dois cheeseburgers completos e uma torre com
duas colheres. – disse Thomas quando ela se aproximou.
- Torre
completa senhor? – disse a garçonete com um batom extremamente forte e mascando
chicletes.
- Sim, a
torre completíssima. Mas traga só quando terminarmos a primeira parte.
- Ok.
Batatas especiais e bacon, com dois cheeseburgers completos e a torre pro
final. Mais alguma coisa?
- O que vai
querer beber? – perguntou Thomas para Sofia.
- Uhn...
Pode ser refrigerante. – respondeu Sofia.
- Dois
refrigerantes.
- Trezentos,
quinhentos ou novecentos ml senhor?
- Eu quero
de novecentos, e você Sofia?
-
Quinhentos.
- Tudo bem
senhores, as bebidas já estão chegando.
A garçonete
foi se afastando da mesa e Sofia se sentiu obrigada a perguntar:
- O que é
uma torre?
Thomas riu, mas respondeu – Uma taça
gigantesca do melhor sorvete que já comi.
- Tudo bem
então... Mais uma pergunta.
- Diga. –
respondeu Thomas apoiando os cotovelos na mesa.
- O que são
batatas especiais? – perguntou Sofia.
- São
batatas fritas misturadas com alguma combinação especial, que no nosso caso foi
bacon. São especiais porque vem com muitos molhos e condimentos em cima. Uma
delícia.
- Confio em
você, caso for ruim, nunca mais acredito em você.
- Pode confiar.
– disse Thomas entusiasmado.
Sofia passou
a mão nos cabelos, e viu o celular tocando novamente com o número de seu ex.
- Droga...
- O que
aconteceu? Outro compromisso? – disse Thomas com um olhar triste.
- Não...
Olha! – Sofia mostrou o celular para Thomas. – É ele de novo. O que eu faço?
- Atende...
Pode ser engraçado.
Sofia riu e
atendeu.
- O que você
quer? Desiste cara, não quero falar com você.
- Mas você não entende que eu já te pedi
desculpas? – disse a voz do outro lado da linha.
- Pedir desculpas
depois que faz não adianta... Olha, até adianta. Te perdoo, mas não quero mais
ver você.
- Por que você faz isso comigo?
- Perguntei
a mesma coisa quando te peguei me traindo, agora me esquece. – disse Sofia
interrompendo a ligação. – Desculpa por isso... – disse Sofia a Thomas.
- Eis a
solução.
Thomas pegou
o telefone da mão de Sofia. Desligou, tirou a bateria e a guardou no bolso.
- Te devolvo
quando acabarmos aqui.
- Por mim,
podia jogar isso no lixo. Não quero ser atrapalhada.
Eles riram e
finalmente o pedido chegou. Comeram as batatas especiais e Sofia se surpreendeu
de quão gostosas eram. Comeram os cheeseburgers e conversavam sem parar. O
assunto fluía perfeitamente e Thomas era tão divertido que surpreendia Sofia.
- Nossa,
estou muito cheia. – disse Sofia se apoiando nas costas da cadeira, mas
continuou - Estou curiosa a respeito dessa torre, quero provar!
- Não vai se
arrepender. – disse Thomas levantando a mão para a mesma garçonete, que veio
sorrindo.
- A torre
senhor? – perguntou ela.
- Sim, a
torre. – respondeu Thomas.
De repente
Sofia viu passar por uma porta uma taça das maiores que já tinha visto, lotada
de sorvete de creme, com castanhas por cima da cobertura de chocolate. Ficou
surpreendida, mas nada podia fazer o dia terminar melhor do que uma taça
gigante de sorvete.
- Meu deus!
– disse Sofia se ajustando na cadeira.
- Eu disse
que era gigante. – respondeu Thomas ajudando a garçonete a colocar a taça em
cima da mesa.
Ele pegou as
colheres, colocou-as em cima da mesa e sentou. Ao sentar-se sorriu para Sofia e a entregou uma colher.
Sofia
observou-o comer o sorvete e acabou se perdendo um pouco em seus pensamentos.
Ele era muito gentil, muito simpático, muito espontâneo... Tinha tudo o que
nunca tivera encontrado num homem, ou melhor... Tinha tudo o que nunca
encontrara em ninguém, e ela nunca definiu outros caras que tinha conhecido
como homens, porque nunca agiram feito tal. Mas Thomas... Bem, Thomas era
diferente.
Depois
daquela noite num jantar simples, porém incrível. Sofia se sentia muito mais
calma e estranhamente feliz. Thomas não deixou que ela pagasse a conta, nem
dividisse nada, achou isso estranho, mas mesmo assim aceitou.
- Onde você
mora? Posso pelo menos te dar uma carona em agradecimento?
- Tudo bem,
mas vou avisando que é um pouco longe daqui.
- Não tem
problema.
Sofia
novamente seguiu as indicações de Thomas. Se esforçou para não esquecer o
caminho de volta.
- Seria
estranho se te perguntasse seu número Sofia?
- Não, acho
que não... – respondeu Sofia, logo em seguida ditando o número para Thomas. –
Se puder anotar o seu número aqui nessa agenda, é que não costumo guardar nada
no celular porque vivo perdendo ou sendo roubada... – disse ela abrindo o porta
luvas e apontando para uma agenda.
Alguns
minutos e algumas indicações complicadas depois, Thomas finalmente disse:
- Pode parar
aqui. Meu prédio é esse aqui na frente.
- Tudo bem.
– disse Sofia encostando o carro. – Olha, muito obrigada pela noite.
- Eu que
agradeço. Espero que o cara não te perturbe mais...
- Acredito
que não vai... – disse Sofia encarando Thomas.
Thomas,
tirando o cinto de segurança, encarou Sofia e ficou alguns segundos sem saber o
que dizer e o que fazer.
- Boa noite
Thomas... – disse Sofia sorrindo com o canto de seus lábios e se aproximou e
deu um beijo no seu rosto. – Obrigada mais uma vez.
Ela sabia
que estava próxima demais dele, e que se fizesse qualquer coisa errada
estragaria tudo, mas mesmo assim não conseguia sair dali. Thomas passou a mão
nos cabelos de Sofia e os colocou atrás da relha. Ela o encarou e num impulso
os dois se beijaram.
Quando Sofia
entrou novamente na realidade, puxou seu próprio corpo pra trás e disse:
- Por favor,
me desculpa... Desculpa, desculpa, desculpa. - colocou as duas mãos no rosto e
expirou.
- Por que está
pedindo desculpas? – disse Thomas.
- Não sei. –
disse Sofia fitando Thomas.
- Bem, eu
tenho que ir agora. Boa noite Sofia, brigada pela companhia hoje. – disse
Thomas sorrindo mais uma vez.
Depois de se
perder duas vezes, Sofia finalmente chegou em casa. Respirou fundo e se sentou
na cama.
- Droga! –
disse ela ao lembrar que Thomas tinha ficado com a bateria de seu celular.
Sorriu
quando viu que ao lado do número de Thomas na agenda estava escrito:
“Brigada pelo esbarrão de hoje a tarde. Sem
ele, talvez não teria tido um jantar tão bom.”