Sofia
Durante quase toda a
vida, Sofia se sentia na obrigação de nunca generalizar coisas,
situações ou pessoas de sua vida. Conviveu por anos com uma mãe
que, no fundo, ela nunca entendeu se tinha bipolaridade ou era
infeliz mesmo.
Tinha dias em sua
infância, que sua mãe sorria e agia com uma suavidade incrível,
mas esses dias eram basicamente apagados quando ela se lembrava das
milhares de vezes que a via discutindo com seu pai, ou reclamando da
vida e das escolhas que fizera quando era jovem.
Sua mãe, a maioria do
tempo, dava para ela conselhos que ela odiava ouvir. Era do tipo de
mulher que não gostava de atitudes do marido, e queria justificar
que esses atos eram da natureza do sexo masculino. Sentia-se irritada
quando começava um relacionamento e sua mãe ficava dizendo que não
se podia confiar, nem amar o homem. Pior era a sensação de quando o
relacionamento realmente não dava certo e a mãe ficava por dias
seguidos dizendo a frase mais odiada por Sofia
- Eu te avisei. - ela
dizia. – Não se pode confiar neles, sempre vão fazer a mesma
coisa.
Sofia se limitava a
apenas fitá-la e imaginar o porquê de todo aquele desgosto.
Parou para pensar um
pouco em Thomas, e tinha certeza que se sua mãe o conhecesse ela
diria a mesma frase e daria a mesma lição sobre como se deve tratar
um homem e como não se deve tratá-lo também. Se perdeu mais uns
minutos em seus pensamentos e voltou a si quando sentiu alguém
tocando em seu ombro.
- Você pode me
entregar esses relatórios até o fim do dia? Não tem muita coisa,
do jeito que te conheço em uma hora você termina. – disse seu
chefe com alguns papéis nas mãos.
- Ah... Tudo bem, eu...
Sim, eu faço.
- Está tudo bem com
você? Parece cansada... Enxaqueca? – ele deu alguns passos até a
frente da mesa dela e fitou seu rosto.
Sofia respirou, puxou
uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- Tudo bem... Os
relatórios estarão prontos antes do almoço.
Seu chefe sorriu e fez
sinal de positivo com a mão e se afastou.
Thomas
O dia de Thomas estava
normal. Os mesmos “bom dia” de sempre no trabalho, aqueles
sorrisos e leves acenos com a cabeça para os conhecidos. Tudo ainda
parecia igual, só ele que não se sentia igual.
Thomas tinha seus
pensamentos atordoados pelos últimos acontecimentos, mas estava
decidido a organizar as ideias apenas quando tivesse tempo para
isso... A quem estava tentando enganar? Não ia conseguir parar de
pensar nisso e se concentrar em outra coisa enquanto não tivesse
resolvido tudo com Clara e Sofia.
Talvez ele tivesse
apenas uma escolha, ser sincero com Clara. Mas antes disso, ele se
sentia obrigado a encontrar-se novamente com Sofia para esclarecer
tudo. Ele só sabia que estava dividido entre as duas e que a decisão
era praticamente impossível.
Clara
Pelo menos a cada cinco
minutos ela olhava para Adam para se certificar que ele não estava
precisando de nada. Algumas vezes ela o pegava olhando para ela
também e já movimentava os lábios perguntando de estava tudo bem.
Na hora do almoço,
Clara saiu depois de suas colegas de trabalho, e como estava sozinha
decidiu ir até um restaurante bem próximo. Por coincidência Adam
estava sentado em uma mesa próxima a janela dos fundos desse
restaurante, esperando seu pedido chegar. Ao vê-la entrar, acenou
para que se aproximasse com um sorriso alegre no rosto.
- Logo no primeiro dia
almoçar sozinho não é muito divertido. Quer almoçar comigo? –
disse Adam quando Clara se aproximou.
Clara sorriu e se
sentou na cadeira de frente para Adam. Fez seu pedido e enquanto
esperavam, bebericavam água e conversavam sobre as atividades que
Adam exerceria.
Tivera sido uma
conversa muito boa. Adam era engraçado e parecia maduro. Não era
como aquelas pessoas que tentavam forçar intimidade perguntando
sobre coisas pessoais sem conhecer direito a pessoa. Clara estava
gostando e aproveitando a companhia nova no almoço.
Logo depois do assunto
trabalho, falaram um pouco sobre os gostos. Admiravelmente, Adam
também não apreciava bares e bebida alcoólica, ele preferia um
cinema, teatro ou até mesmo um show, mas era mais caseiro.
- O que não gosto nos
bares não é o lugar, a pouca luz me agrada. O problema de bares
esta nas pessoas. Aqueles caras e garotas só procurando alguém pra
passar a noite. É difícil encontrar alguém que queira encontrar
uma pessoa, na verdade eles querem encontrar um corpo. – disse
Clara surpreendida quando Adam disse que não gostava de bares.
- Concordo, já fui
algumas vezes em bares, logo que me aproximava das garotas, quando
não faziam cara de nojo, para parecerem “difíceis”, elas se
atiravam e não tinham conteúdo nenhum. Eram feitas de maquiagem,
roupa cara e álcool. Nada além. – disse Adam.
A conversa continuou,
mas tinham que voltar ao trabalho. Voltaram caminhando e conversando,
ambos surpreendidos com a companhia agradável um do outro.
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