A semana
para os dois tivera sido normal. Claro que em alguns momentos se pegaram
pensando um no outro e no acontecimento daquela noite, mas tentavam se distrair
pra nada sair do controle. Thomas se segurou pra não ligar pra Clara logo que
chegou em casa, e durante a semana se limitava a mensagens de texto comentando
sobre o dia dele, e perguntando sobre o dela. Esforçou-se ao máximo para não
pressiona-la ou sufoca-la. Não queria estragar as coisas entre eles.
Clara estava
fortemente influenciada por Sofia, para se manter sem tomar nenhuma iniciativa,
porque afinal quem deu o primeiro passo oficial foi ela com o beijo. Sempre que
ia cair na tentação em escrever algo para Thomas, recebia algo dele. Isso
tirava sorrisos dela, que não podia disfarçar. Ela se sentia novamente na
adolescência, olhando o celular o tempo todo, ou tentando se distrair para não
usa-lo.
Sofia
Sofia ficava
praticamente o dia inteiro, interessada no que ambos conversavam e como ele a
tratava. Ela se preocupava com a amiga e acima de tudo tinha um ciúme absurdo
de todo e qualquer relacionamento em que Clara se envolvesse.
A maioria
das vezes ela já conhecia com antecedência o cara, mas dessa vez era como um
campo minado. Não conseguia caminhar sem conhecer. Infelizmente, ela tinha que
admitir a si mesma, que Clara já estava grande suficiente para lidar com
qualquer coisa que acontecesse, mas ela se sentia impulsionada a proteger a
amiga em todas as circunstâncias. Ela tinha que admitir que Clara estava feliz,
e aparentemente esse tal de Thomas também estava, e a tratava muito bem, tal
como ela merecia.
Por várias
vezes se pegava imaginando o dia em que o conheceria. Esperava que ele fosse
mais do que suas expectativas, porque se fosse menos ou igual ela forçaria pra
não dar certo. Isso ela sabia que soava possessivo, mas ela sempre esperava o
melhor pra sua amiga.
Sofia tinha
uma experiência enorme com babacas em sua vida. Sempre tivera situações ruins
em seus relacionamentos. Julgava que quanto mais aparentemente “especial” o
cara fosse, maior seria o grau de frustração que ela teria no relacionamento.
Infelizmente na vida dela a única coisa que tinha dado muito certo tinha sido a
amizade de Clara, e por isso era tão cuidadosa com isso. E por isso também que
dava tanta importância aos sentimentos da amiga.
Foi até uma
cafeteria pra ver se colocava os pensamentos em ordem e parava pelo menos um
pouco de se preocupar com Clara.
- Um copo de
300 ml de café puro, por favor. – disse ao garoto do balcão.
- Com açúcar?
- Sim.
Depois de
alguns segundos ele esticou a mão com o copo para entregar a ela enquanto ela
procurava na sua bolsa o dinheiro.
- Obrigada.
– disse ela pagando, tomando o copo e se virando com o olhar fixo na bolsa. Esbarrou
em alguém que estava formando uma fila atrás dela, entornando todo o café no
chão. Respirou fundo de olhos fechados e disse:
- Desculpa,
eu estava distraída.
Abriu os
olhos fitando o chão cheio de café, e o garoto do balcão disse:
- Pode
deixar que eu limpo a bagunça.
- Eu ainda
vou precisar de um café. – disse Sofia
procurando mais dinheiro na bolsa.
- Eu não
devia ter ficado tão perto de você na fila. Eu estava olhando o que tinha de
bebidas pra tomar. Eu pago outro café pra você. Desculpe.
Sofia
levantou o olhar para o homem em quem tinha esbarrado. E surpreendida com a
beleza dele respondeu:
- Não
precisa. - tirou umas moedas da bolsa e continuou voltando-se para o garoto do
balcão. – Mais um puro, adoçado, de 300 ml.
- Eu
insisto. – disse o cara da fila afastando a mão dela do garoto e entregando uma
nota ao menino. – O mesmo pra mim também, por favor.
Enquanto ele
se aproximava do balcão ela fitava o rosto dele e juntando os detalhes. Ele era
alto, os cabelos soltos e pretos. A pele era branca e os olhos brilhavam num cinza
surpreendente.
- Muito
obrigada. – disse ela, seguido por um sorriso.
Ele sorriu
de volta e entregou o café em suas mãos.
- Sujou a
sua roupa? Se quiser eu conheço uma boa lavanderia... – disse ela tímida,
percebendo as manchas redondas na camiseta e na calça dele.
- Eu nem
gosto tanto assim dessa roupa, mas como eu estou precisando de uma nova
lavanderia... Aceito sua dica. – disse ele encostando-se a uma das cadeiras do
balcão.
- Ela não
fica muito longe daqui, se tiver roupa reserva eu te levo até lá.
Sofia
continuava em pé observando, quando podia, os olhos do cara. Ela tinha medo que
ele percebesse, então tentou fitar o copo de café por mais tempo que podia.
- Tudo bem.
Estou estacionado por aqui...
- Não é
preciso de carro, é a menos de 50 metros daqui.
Ele tomou o
copo nas mãos, ajustou a mochila nas costas e começaram a caminhar em direção a
lavanderia de Sofia. Foram em silêncio por alguns metros, até que ele
perguntou:
- Qual o seu
nome?
Ela olhou no
rosto dele mais uma vez, e pra responder decidiu encara-lo.
- Sofia. Ah,
chegamos! – disse ela passando por uma porta de vidro grande, e se aproximando
do balcão. – Bom dia! Eu esbarrei nele na cafeteria, e queria que você
resolvesse meu problema com urgência. Você pode fazer isso por mim Lucas? – perguntou
Sofia ao rapaz do balcão, que era um conhecido seu de muitos anos atrás.
- Tudo bem.
– respondeu Lucas.
- Pode
entrar ali naquela porta... – disse ela para o rapaz, esperando que ele falasse
o nome dele.
- Thomas.
O nome
acelerou seu coração, ela sentiu uma dor no peito. Respirou tentando não
transparecer que estava surpresa.
- Sim
Thomas, entre ali para trocar sua roupa.
Ele foi
caminhando até a porta, enquanto ela tentava se acalmar. Em poucos goles
engoliu todo o café que estava em sua mão. Jogou o copo de plástico num lixo
que tinha do lado de fora da loja e voltou para dentro.
- Você pode
me dar um copo de água, por favor?
Lucas voltou
com um copo de água gelada nas mãos e entregou a Sofia.
- Obrigada.
Sofia se
sentou em uma das cadeiras próximas ao balcão. Enquanto bebia rapidamente a
água. Não entendia porque ficou tão nervosa, ela queria conhece-lo. Vinham muitas perguntas em sua mente: “será
que é ele mesmo”, “poderia ser uma coincidência tão grande?”, “por que tinha
que ser justo ele que estava naquela cafeteria naquela hora?”. Sua mente travou
por alguns segundos e a ultima pergunta surgiu “Por que ele tinha que ser tão
surpreendentemente bonito?”...
Thomas
Enquanto
estava dentro daquela salinha trocando de roupa, Thomas se lembrou de que Clara
tinha mencionado uma amiga que se chamava Sofia. Era com ela que Clara tinha
saltado de paraquedas, e elas eram muito amigas. Poderia ser uma coincidência
tão grande de ele encontra-la? Ela era muito simpática e também muito bonita.
Tinha cabelos pretos, um sorriso incrivelmente brilhante e olhos verdes. Como
Clara nunca tivera a descrito, então ele não podia ter certeza de que essa
Sofia era a mesma.
Sofia
Enquanto
pensava nisso, ele reapareceu no balcão com uma camiseta preta e uma calça
jeans cinza, ainda mais bonito do que na cafeteria. Ela se levantou e entregou
um cartão a Lucas, e disse para ele passar a lavagem das peças de roupa no
mesmo.
Após o
pagamento, Sofia ainda estava nervosa demais para continuar ali. Viu Thomas se
sentar em uma das cadeiras próximas ao balcão para esperar sua roupa sair.
- Fica
pronto daqui a 40 minutos. – disse Lucas de trás de uma tela de um computador
cadastrando o pedido.
Thomas fitou
Sofia mais uma vez e disse:
- Vou
esperar por aqui.
Sofia não
sabia o que dizer, deu um sorriso falso e se sentou próxima a ele. Estava quase
ofegante, mas não queria arriscar perguntar se ele conhecia a Clara, ou se era
só uma coincidência de nomes mesmo.
- Seu
nome... Bem, não me é estranho. Você conhece alguma Clara? – perguntou Thomas
sem saber o que esperar na resposta.
Agora as
dúvidas de Sofia tinham se acabado. Era ele mesmo.
- Sim, minha
melhor amiga... Espere... Thomas! Vocês saíram domingo certo?
- Isso
mesmo. Eu estava na duvida de perguntar, pois ela nunca tinha te descrito pra
mim, mas já tinha falado muito de você.
- Ela
comentou sobre você, mas não deu detalhes sobre sua aparência também.
- AH,
entendo.
Sofia estava
constrangida, num salto fingido disse:
- Nossa, eu
esqueci que tenho um compromisso, não posso ficar por aqui... Nos vemos
qualquer dia desses. Desculpe-me de novo pelo café e até logo.
Sofia foi
embora e nem esperou pelo que Thomas ia falar. Tirou as chaves do carro da
bolsa e foi dirigindo pra casa.
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