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sexta-feira, 13 de abril de 2012

A visão de uma noite


Parte 6

A semana para os dois tivera sido normal. Claro que em alguns momentos se pegaram pensando um no outro e no acontecimento daquela noite, mas tentavam se distrair pra nada sair do controle. Thomas se segurou pra não ligar pra Clara logo que chegou em casa, e durante a semana se limitava a mensagens de texto comentando sobre o dia dele, e perguntando sobre o dela. Esforçou-se ao máximo para não pressiona-la ou sufoca-la. Não queria estragar as coisas entre eles.
Clara estava fortemente influenciada por Sofia, para se manter sem tomar nenhuma iniciativa, porque afinal quem deu o primeiro passo oficial foi ela com o beijo. Sempre que ia cair na tentação em escrever algo para Thomas, recebia algo dele. Isso tirava sorrisos dela, que não podia disfarçar. Ela se sentia novamente na adolescência, olhando o celular o tempo todo, ou tentando se distrair para não usa-lo.

Sofia
Sofia ficava praticamente o dia inteiro, interessada no que ambos conversavam e como ele a tratava. Ela se preocupava com a amiga e acima de tudo tinha um ciúme absurdo de todo e qualquer relacionamento em que Clara se envolvesse.
A maioria das vezes ela já conhecia com antecedência o cara, mas dessa vez era como um campo minado. Não conseguia caminhar sem conhecer. Infelizmente, ela tinha que admitir a si mesma, que Clara já estava grande suficiente para lidar com qualquer coisa que acontecesse, mas ela se sentia impulsionada a proteger a amiga em todas as circunstâncias. Ela tinha que admitir que Clara estava feliz, e aparentemente esse tal de Thomas também estava, e a tratava muito bem, tal como ela merecia.
Por várias vezes se pegava imaginando o dia em que o conheceria. Esperava que ele fosse mais do que suas expectativas, porque se fosse menos ou igual ela forçaria pra não dar certo. Isso ela sabia que soava possessivo, mas ela sempre esperava o melhor pra sua amiga.
Sofia tinha uma experiência enorme com babacas em sua vida. Sempre tivera situações ruins em seus relacionamentos. Julgava que quanto mais aparentemente “especial” o cara fosse, maior seria o grau de frustração que ela teria no relacionamento. Infelizmente na vida dela a única coisa que tinha dado muito certo tinha sido a amizade de Clara, e por isso era tão cuidadosa com isso. E por isso também que dava tanta importância aos sentimentos da amiga.
Foi até uma cafeteria pra ver se colocava os pensamentos em ordem e parava pelo menos um pouco de se preocupar com Clara.
- Um copo de 300 ml de café puro, por favor. – disse ao garoto do balcão.
- Com açúcar?
- Sim.
Depois de alguns segundos ele esticou a mão com o copo para entregar a ela enquanto ela procurava na sua bolsa o dinheiro.
- Obrigada. – disse ela pagando, tomando o copo e se virando com o olhar fixo na bolsa. Esbarrou em alguém que estava formando uma fila atrás dela, entornando todo o café no chão. Respirou fundo de olhos fechados e disse:
- Desculpa, eu estava distraída.
Abriu os olhos fitando o chão cheio de café, e o garoto do balcão disse:
- Pode deixar que eu limpo a bagunça.
- Eu ainda vou precisar de um café.  – disse Sofia procurando mais dinheiro na bolsa.
- Eu não devia ter ficado tão perto de você na fila. Eu estava olhando o que tinha de bebidas pra tomar. Eu pago outro café pra você. Desculpe.
Sofia levantou o olhar para o homem em quem tinha esbarrado. E surpreendida com a beleza dele respondeu:
- Não precisa. - tirou umas moedas da bolsa e continuou voltando-se para o garoto do balcão. – Mais um puro, adoçado, de 300 ml.
- Eu insisto. – disse o cara da fila afastando a mão dela do garoto e entregando uma nota ao menino. – O mesmo pra mim também, por favor.
Enquanto ele se aproximava do balcão ela fitava o rosto dele e juntando os detalhes. Ele era alto, os cabelos soltos e pretos. A pele era branca e os olhos brilhavam num cinza surpreendente.
- Muito obrigada. – disse ela, seguido por um sorriso.
Ele sorriu de volta e entregou o café em suas mãos.
- Sujou a sua roupa? Se quiser eu conheço uma boa lavanderia... – disse ela tímida, percebendo as manchas redondas na camiseta e na calça dele.
- Eu nem gosto tanto assim dessa roupa, mas como eu estou precisando de uma nova lavanderia... Aceito sua dica. – disse ele encostando-se a uma das cadeiras do balcão.
- Ela não fica muito longe daqui, se tiver roupa reserva eu te levo até lá.
Sofia continuava em pé observando, quando podia, os olhos do cara. Ela tinha medo que ele percebesse, então tentou fitar o copo de café por mais tempo que podia.
- Tudo bem. Estou estacionado por aqui...
- Não é preciso de carro, é a menos de 50 metros daqui.
Ele tomou o copo nas mãos, ajustou a mochila nas costas e começaram a caminhar em direção a lavanderia de Sofia. Foram em silêncio por alguns metros, até que ele perguntou:
- Qual o seu nome?
Ela olhou no rosto dele mais uma vez, e pra responder decidiu encara-lo.
- Sofia. Ah, chegamos! – disse ela passando por uma porta de vidro grande, e se aproximando do balcão. – Bom dia! Eu esbarrei nele na cafeteria, e queria que você resolvesse meu problema com urgência. Você pode fazer isso por mim Lucas? – perguntou Sofia ao rapaz do balcão, que era um conhecido seu de muitos anos atrás.
- Tudo bem. – respondeu Lucas.
- Pode entrar ali naquela porta... – disse ela para o rapaz, esperando que ele falasse o nome dele.
- Thomas.
O nome acelerou seu coração, ela sentiu uma dor no peito. Respirou tentando não transparecer que estava surpresa.
- Sim Thomas, entre ali para trocar sua roupa.
Ele foi caminhando até a porta, enquanto ela tentava se acalmar. Em poucos goles engoliu todo o café que estava em sua mão. Jogou o copo de plástico num lixo que tinha do lado de fora da loja e voltou para dentro.
- Você pode me dar um copo de água, por favor?
Lucas voltou com um copo de água gelada nas mãos e entregou a Sofia.
- Obrigada.
Sofia se sentou em uma das cadeiras próximas ao balcão. Enquanto bebia rapidamente a água. Não entendia porque ficou tão nervosa, ela queria conhece-lo.  Vinham muitas perguntas em sua mente: “será que é ele mesmo”, “poderia ser uma coincidência tão grande?”, “por que tinha que ser justo ele que estava naquela cafeteria naquela hora?”. Sua mente travou por alguns segundos e a ultima pergunta surgiu “Por que ele tinha que ser tão surpreendentemente bonito?”...

Thomas
Enquanto estava dentro daquela salinha trocando de roupa, Thomas se lembrou de que Clara tinha mencionado uma amiga que se chamava Sofia. Era com ela que Clara tinha saltado de paraquedas, e elas eram muito amigas. Poderia ser uma coincidência tão grande de ele encontra-la? Ela era muito simpática e também muito bonita. Tinha cabelos pretos, um sorriso incrivelmente brilhante e olhos verdes. Como Clara nunca tivera a descrito, então ele não podia ter certeza de que essa Sofia era a mesma.

Sofia
Enquanto pensava nisso, ele reapareceu no balcão com uma camiseta preta e uma calça jeans cinza, ainda mais bonito do que na cafeteria. Ela se levantou e entregou um cartão a Lucas, e disse para ele passar a lavagem das peças de roupa no mesmo.
Após o pagamento, Sofia ainda estava nervosa demais para continuar ali. Viu Thomas se sentar em uma das cadeiras próximas ao balcão para esperar sua roupa sair.
- Fica pronto daqui a 40 minutos. – disse Lucas de trás de uma tela de um computador cadastrando o pedido.
Thomas fitou Sofia mais uma vez e disse:
- Vou esperar por aqui.
Sofia não sabia o que dizer, deu um sorriso falso e se sentou próxima a ele. Estava quase ofegante, mas não queria arriscar perguntar se ele conhecia a Clara, ou se era só uma coincidência de nomes mesmo.
- Seu nome... Bem, não me é estranho. Você conhece alguma Clara? – perguntou Thomas sem saber o que esperar na resposta.
Agora as dúvidas de Sofia tinham se acabado. Era ele mesmo.
- Sim, minha melhor amiga... Espere... Thomas! Vocês saíram domingo certo?
- Isso mesmo. Eu estava na duvida de perguntar, pois ela nunca tinha te descrito pra mim, mas já tinha falado muito de você.
- Ela comentou sobre você, mas não deu detalhes sobre sua aparência também.
- AH, entendo.
Sofia estava constrangida, num salto fingido disse:
- Nossa, eu esqueci que tenho um compromisso, não posso ficar por aqui... Nos vemos qualquer dia desses. Desculpe-me de novo pelo café e até logo.
Sofia foi embora e nem esperou pelo que Thomas ia falar. Tirou as chaves do carro da bolsa e foi dirigindo pra casa.


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