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domingo, 17 de abril de 2011

Parte 2


Clara

Depois do longo descanso, Clara queria ter certeza de que a noite anterior tinha acontecido mesmo. Ao se sentar na cama, viu a bolsa numa mesa perto de sua cama e as roupas espalhadas pelo quarto.
Levantou-se ainda descrente em tudo e revirou a bolsa para encontrar seu celular. Ao encontrá-lo, buscou nos contatos o nome de Thomas.
- Achei! Foi verdade então... – disse Clara com um sorriso no rosto.
Ainda desorientada decidiu tomar um banho pra ver se conseguia acordar totalmente.
Ela tinha que se concentrar no banho, porque se deixasse seu pensamento livre ela demoraria horas para sair do banho – como costumava fazer sempre - mas já era tarde e ela tinha que ligar para sua amiga e contar sobre as novidades.
- Sofia? – disse Clara ao ligar para a amiga.
- O... O que? Como ousa me ligar tão cedo? – a amiga respondeu com a voz completamente rouca.
- Não é cedo. Bom, o que importa é que já te acordei mesmo. Que tal um café da manhã com sua amiga hoje? Tenho coisas pra te contar e quero saber da sua noite de ontem também!
- Qual é! Não passou a noite com ninguém não? Tem que vir me ligar essa hora?
- Você já viu que horas são?
A amiga ficou quieta por alguns instantes. Clara escutou o som da janela da amiga se abrindo pelo telefone e alguns passos.
- Oh meu Deus! Cara, já passou das duas e eu ainda achando que era muito cedo! Desculpa amiga.
- Ta, eu espero você tomar banho. Que tal daqui a meia hora naquela padaria que íamos sempre juntas, lembra?
- Hm, tudo bem. Daqui a meia hora estarei lá!
Clara se apressou em abrir o guarda roupa e procurar algo que pudesse vestir. Logo depois pegou a mesma bolsa e as chaves do carro que estavam na sala e saiu. O dia estava muito quente e ensolarado. No caminho para padaria ela não sabia como começaria a contar para Sofia o que tinha acontecido na noite anterior.
Ao chegar teve que esperar mais uns quinze minutos, porque como sempre sua amiga estava atrasada. Clara foi procurar algum lugar pra sentar. Ao se sentar, viu a amiga toda atrapalhada, passando pela porta da padaria com o cabelo ainda despenteado e olhando para todos os lados. Clara balançou o braço e Sofia sorriu.
- Desculpa. Eu sei que to atrasada.
- Normal, só que eu to morrendo de fome.
- Que tal um pedaço de torta? Eu vou ali buscar pra gente.
Depois de alguns instantes Sofia apareceu de novo com as duas tortas na mão, e foi numa pequena geladeira pegar algo pra beber.
- O que você quer? – disse Sofia olhando pra geladeira. – Tem chá gelado serve?
- Pode ser! - Clara pegou a primeira colherada da torta esperando a amiga voltar com as bebidas.
- E aí? Pode começar a me contar porque eu não tenho quase nada a dizer. – disse a amiga depois de tomar um gole do chá gelado. - Ah amiga, se não conheceu ninguém, o jeito mais fácil de acabar a solidão é procurar na agenda o número de algum ex que não te odeie e fazer bom proveito da ligação. – disse Sofia e após dizer isso as duas começaram a rir.
- Não preciso de nenhum ex. – disse Clara.
- Onde se conheceram? Quando? E como?
- Onde e quando... Bem, no bar que eu te disse que ia ontem. Na verdade fui sozinha mais pra ver se encontraria alguém só pra conversar mesmo. Conhecer alguém novo não mata ninguém. Agora vem a parte do como que é bem interessante...
- Um cara de bar? Tem certeza que foi real pra você estar me chamando aqui? Acho que você imaginou tudo e ta me contando esse delírio. – disse Sofia interrompendo Clara.
- Não um cara de bar. Na verdade era um cara em um bar, ele não era como os outros idiotas que estavam lá. Ele parecia que não tava gostando do lugar.
- Bom, eu tenho minha regrinha, a gente conhece um cara pelo que ele ta bebendo... O que ele tava bebendo?
- Beber? Bem, com muito nojo, um copo de cerveja.
- Com nojo? – disse Sofia espantada, ao ver que clara tinha feito uma cara brava pra ela, ela continuou - Ta, deixo pra fazer minhas conclusões depois.
- Então, eu entrei no bar e fiquei procurando uma pessoa pra conversar. Quando um idiota típico veio me oferecer uma bebida eu o dispensei. Depois quando olhei pra esse cara ele já tava com outra menina... Mas, aí começa meu “conheci alguém”. Quando olhei na direção do idiota, vi um cara lindo sentado a umas quatro cadeiras a minha esquerda.
- Que nojo desse cara que você disse, aposto que o outro é igual ele.
- Não fala assim, to esperando pra conhecê-lo melhor.
- Como esse cara lindo era?
- Deixa eu contar por detalhes, depois você vai saber como ele era. Para de ser apressada.
- Ta bom, credo. – disse Sofia encostando as costas na cadeira e bebendo o seu chá.
- Quando o vi, pensei nisso que você pensou, que talvez ele fosse tão idiota quanto os outros, mas não queria ir até ele pra conversarmos, então dei um jeito pra saber se ele tinha reparado em mim. Eu me levantei e fiquei uns segundos longe da cadeira, aí vi ele correndo em direção da porta e dei um jeito de trombar nele.
- Esperta você, mas porque ele tava correndo pra porta?
- Ah, ele disse que estava indo atrás de uma pessoa, mas vou te confessar que não vi ninguém sair do bar depois que eu entrei, então achei isso muito estranho.
Sofia olhou para clara com os olhos bem abertos e se apoiou na mesa com os cotovelos e disse:
- Então ele deve ter pensado que você tinha saído.
- Também pensei nisso.
- É provável, porque se ele disse que tava indo atrás de alguém e depois fica pra conversar com você é bem estranho.
- Ele disse que já tinha perdido a pessoa, então poderia ficar pra uma bebida.
Sofia ficava cada vez mais interessada no que a amiga contava, e o tempo todo, bem humorada dando resposta que faziam as duas rirem juntas. Clara o tempo todo esperando que seu celular tocasse, mas depois de algumas horas levou um grande susto.
- O que foi Clara? – disse Sofia com um olhar estranho.
- Eu acabei de me lembrar que eu dei só o número do telefone fixo pra ele, e se ele me ligar hoje?
- Ah, deixe que a secretária eletrônica atenda. Depois você vê se ele deixou um recado...- fez uma pausa como se acabasse de lembrar de algo e continuou - Mas porque diabos você não passou seu número de celular pra ele?
- Acho que foi a pressa, ou talvez eu tenha passado... Não lembro muito bem.
Sofia começou a rir e perguntou:
- Você tava bêbada?
- Não! Na verdade, só tomei um pouco de tequila, mas nada que afetasse tanto minha memória...
- Ah, tudo bem, ele vai deixar recado se estiver bem interessado.
- Espero que sim. – Clara já estava com a expressão apreensiva e não sabia se voltava pra casa ou se saía pra algum lugar com a amiga.
- Bom, nesse caso... Obrigada pelo “café da manhã de tarde”, mas agora tenho que ir e acho que você também quer ir pra casa. – disse Sofia se levantando da cadeira, deu alguns passos em direção a cadeira de Clara que era de frente pra sua na mesa e apoiou as mãos sobre a mesa e sussurrou no ouvido dela: - Se você ligar pra ele eu te mato! – se pôs de pé novamente e continuou - Acho que o que acabei de fazer foi um juramento.
- Mas...
- Mas nada. Ou liga pra ele e morre sem vê-lo de novo, ou espera que ele te ligue e tenha uma amiga super feliz pela sua atitude. – disse Sofia interrompendo Clara.
- Tudo bem Sofia.
Ambas saíram da padaria, se despediram e Clara voltou ao seu apartamento esperando ansiosamente para apertar o botão “reproduzir” da secretária eletrônica.

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