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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Não quero mais lembrar de suas costas indo ao elevador.

Hoje eles decidiram sentar e conversar. Por muito tempo, eles não tiveram tempo mas agora algo estava diferente.
Ela sentada na poltrona, observando o cômodo porque fazia uns anos que não entrava ali. 
Ele no sofá, pensando no que poderia dizer já que se sentia dono de toda a culpa. Ele segurava a beirada do sofá e apertava tão forte que parecia que a qualquer momento poderia rasgar.
- Não mudou quase nada por aqui. – disse ela fitando do teto a porta. – Pelo que reparei não mudou nada...- continuou. Depois de alguns minutos de silêncio, ela voltou seus olhos para ele e percebeu que ele não conseguia desviar os dele. Ficou ali parada o encarando e passou as mãos sobre os braços da poltrona. Respirou fundo e enfim ele disse:
- Sempre gostei das coisas assim... Bem, acho que nunca pensei em mudar.
Ela fez um aceno com a cabeça. 
Os dois não se sentiam a vontade, estavam sem saber o que fazer e optavam pelo silêncio que deixava o ar cada vez mais pesado. Ela percebeu que a visita dela ali não tinha sido em vão, aquela ligação que ele tivera feito pedindo que ela estivesse alí naquele momento não era em vão. Ela mordeu os labios e então decidiu falar:
- Por que me chamou aqui?
De repente ele soltou a parte que estava segurando no sofá e disse:
- Você sabe que precisamos conversar.
- Sim eu sei, mas você fica parado com medo de falar. Cansei desse silêncio! - ela se levantou e foi pegar sua bolsa e as chaves do carro que estavam em cima de uma mesa de vidro, quando deu alguns passos ele a segurou pelo braço esquerdo. Ela evitava ao máximo demonstrar qualquer sentimento e por isso não conseguia olhar nos olhos dele.
- Desculpa tomar seu tempo. A única imagem que não sai da minha cabeça é a de você saindo pela porta do meu apartamento e andando em direção ao elevador no fim do corredor... Você nunca se vira nem pra dar um sorriso.- disse ele olhando para as costas dela, esperando que dessa vez fosse diferente.
- A única coisa que me lembro é eu andando até seu elevador sem que você me chame uma ultima vez. Eu sempre esperei de você algo mais que você nunca me deu.
- Não que eu nunca tivesse vontade de ter feito mais por você, mas isso é algo... Bem, eu nunca tive mais a oferecer, o que tive guardei para te ligar e agora estou retirando de mim tudo o que tenho pra não te deixar ir.
- Eu tirei tudo de mim pra te esperar fazer isso, agora não tem porque eu ficar sem um motivo dessa conversa. Por que você me chamou aqui? - ela se virou para ele, esperando uma resposta que a surpreendesse mais do que a ligação que recebera dele. Eles ficaram por algum tempo fitando um ao outro. Ela respirou bem fundo e com todo o seu fôlego continuou: -Não sei, vim aqui pra entender. Se tudo o que você esta falando é verdade, mostra pra mim...
- Eu nunca quis que você partisse, sei que errei. Nunca fui o que você esperava, sempre quis te surpreender de algum modo, mas nada o que eu fazia parecia suficiente. A culpa é minha. - disse ele enterrompendo-a.
- Não vim aqui pra ouvir você se desculpar. Você sempre se desculpa pelas coisas e não toma atitude pra mudar. Vou embora!- ela repuxou o braço com força, mas ele ainda a segurava. Era como uma algema a um poste de ferro preso ao chão, ela não podia se mover e isso ao mesmo tempo a magoava e a deixava com medo.
- Você não vai embora. - ele ainda a segurava com força e tinha medo de a machucar, mas ele precisava dizer o que sentia. - Eu não quero mais lembrar de suas costas, de você andando sem uma expressão no rosto. Quero saber o que sente, se é ódio, se você me ama... Qualquer coisa serve pra mim, isso vai me dizer o que fazer depois do dia de hoje. 
- Eu... - ela não sabia exatamente o que sentia, mas sabia que não tinha nada de ruim como ódio. - Você acha que se eu te odiasse eu teria ainda voltado aqui?
- Mas pode ser que essa seja a ultima vez... E eu não quero que seja. Eu te amo.
Ela não podia mais controlar as emoções, seus braços tremiam e agora ela não tinha mais medo, ela queria que aquilo tivesse um bom fim. Ele tentou colocar todas as forças que tinha em uma atitude diferente e isso fez dele alguém mais forte, ja pode dizer em palavras que era amor, agora tinha que demonstrar. 
Ela colocou a mão direita sobre seu braço esquerdo que ele ainda segurava. Ela deslizou a mão até encontrar a dele, ele também tremia, pressionou a mão sobre a dele que agora afrouxara e sorriu.
Ele se sentia inseguro, mas decidiu que assim que ele queria ficar. Um abraço e um longo beijo trouxe a lembrança pra ele de quando ele acordava de manhã e a via ao seu lado na cama, lembrou do dia que sentiu as mãos finas e macias acariciarem seu rosto, lembrou de filmes de comédia com ela. Ele pensava nisso e não sabia que a mente dela também estava repleta dessas lembranças todas como um filme que todos os dias ela gostava de lembrar.
Depois disso, eles não buscavam o pra sempre. Era tudo tão incerto, mas a incerteza que fazia com que eles dessem valor ao aqui e agora. Ela continuava a caminhar até o elevador, mas não era mais sozinha, ele a levava pois não desejava mais ver suas costas e sim seu sorriso que era muito melhor de lembrar.


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